sábado, 28 de julho de 2007

ESMURRO O MEU CORPO


Esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que depois de ter pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado...


Paulo


Declaração como a de Paulo acima é objeto de rejeição natural por parte de quase todas as escolas de psicologia e psicanálise.


O que se diz é que se trata de um comportamento de repressão instintual, em razão de que para Paulo o “corpo” existiria em contraposição ao espírito; e, assim sendo, Paulo diria “não” a todas as suas pulsões instintuais, quase todos “imorais” ou “a-éticas”, e, portanto, contrarias ao comportamento cristão, mas cuja supressão ou repressão seriam extremamente danosa ao ser, fosse gerando sombra, fosse criando um neurótico do são comportamento.


Mas a revelação do sentido da saúde humana no Evangelho nem sempre leva sempre em consideração os axiomas das ciências da alma.


Para Jesus, por exemplo, para o bem do ser, há coisas, membros, pulsões, desejos, caprichos, poderes, etc. que precisam ser cortados de nós (mãos, pés, olhos) a fim de que não se perca a inteireza do ser. Ora, isto é ante “psicológico”.


Paulo diz o que acima declarou. Esmurrava e reduzia os âmbitos das pulsões e dos desejos a fim de não se tornar escravo enquanto falava de liberdade. Ora, isto também não é “psicologicamente sadio”, diriam muitos.


Entretanto, no próprio texto, Paulo admite que haja um eu profundo que faz a gestão do que é meu (corpo), mas não sou eu. Sim! É meu, mas não sou eu.

É o “meu” contra o que sou “eu” justamente aquilo que, em nome do meu, se impõe contra a vida, como direito do instinto, expresso na linguagem do “corpo”.


Há, todavia, um eu (eu reduzo meu corpo à escravidão), o qual não é instintual no desejo, mas consciente nas decisões que toma visando algo maior e mais elevado do que a basicalidade do instinto sem dono.

Assim ficaria o texto de Paulo:


Eu esmurro o meu corpo e eu o reduzo à escravidão, para que depois de eu ter pregado a outros, eu não venha a ser desqualificado...


Desse modo há um eu que deve ser maior do que o que é meu sem ser eu, no sentido mais profundo do termo.


O que de fato gera sombra e neurose no ser não é a negação do instinto quando deseja colocar o eu sobre a escravidão dos desejos e caprichos.


O que gera sombra e neurose é justamente negar ao eu a verdade, entregando-se aos desejos caprichosos como se fossem essenciais e senhores de nosso sentido de ser.


Ou então, neurose e sombra crescem em nós quando entramos no processo de negação da verdade em razão de que nos submetamos às leis externas da moral e do capricho, quando elas nada têm a ver com a verdade do Evangelho.


Hoje há muita gente pensando que liberdade em Cristo é a graxa que enseba nossos caprichos como se fosse unção para pecar, e isso sem nem mesmo se ter a consciência de que se está pecando contra o sentido da vida.

Também há daqueles que chamam o que é meu como se fosse o que seja eu. O meu é meu, mas não sou eu. Eu sou maior do que o que é meu. O eu não é feito de coisas que não sejam apenas o eu em essência.


Desse modo, sem neura e sem frouxidão, sou chamado a dizer não à escravidão dos desejos e caprichos que existem em mim apenas esperando serem chamados de “eu” pela minha entrega aos caprichos.


Quem assim entende, dá ao corpo (instinto) todas as comidas das quais o corpo-instinto se serve. De alimentos à sexualidade e sensorialidade sadios. Mas não se entrega aos desejos absurdos do corpo de escravidão.


O Evangelho, sendo seguido, não introjeta sombra quando alguém reduz o corpo à escravidão. O que introjeta sombra é moral como mentira, é a média das opiniões feitas lei, e sem razão de ser.


O que introjeta sombra é negação daquilo para o que a verdade diz sim, mas a moral diz não. É somente na luta contra a verdade que as sombras crescem em nós.

Pense nisso!


Nele, que é Aquele que disse que mãos, pés, e braços desarmônicos com o eu podem e devem ser amputados para que o eu fique inteiro,


Caio

06/05/07
Lago Norte
Brasília

Um comentário:

Secretaria de Comunicação e Marketing - FAMP disse...

Belíssima explanação da Palavra Caio,

As vezes demora pra nós Cristão sabermos verdadeiramente que lutamos a todo momento contra as vontades da carne. E como a carne está em nós todo o tempo, não podemos baixar a guarda um só segundo.

Grande abraço irmão!
O Senhor te abençoe!